quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ao serviço da Palavra com toda a Igreja

Intenção de Bento XVI para Outubro lembra Sínodo dos Bispos e pede que se transmitam «com coragem as verdades da fé»

"Que o Sínodo dos Bispos ajude os pastores e os teólogos, os catequistas e os animadores comprometidos no serviço da Palavra de Deus a transmitir com coragem as verdades da fé, em comunhão com toda a Igreja" [Intenção do Papa para o mês de OUTUBRO]

1. O Sínodo dos Bispos

Surgido na sequência do Concílio Vaticano II, o Sínodo dos Bispos foi instituído pelo Papa Paulo VI, através da Carta apostólica Apostolica sollicitudo, de 15 de Setembro de 1965. É uma expressão da unidade dos bispos com o Papa e da sua co-responsabilidade no governo da Igreja. Reúne representantes qualificados dos bispos de todo o mundo, sob a forma de Assembleia Geral (Ordinária ou Extraordinária), tratando de assuntos que dizem respeito à Igreja universal, ou em Assembleias Especiais, mais atentas às necessidades das Igrejas locais de um continente ou ampla região pastoral.

Durante este mês de Outubro, tem lugar a XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada para debater «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja». É um tema pleno de actualidade, porque as investigações históricas, literárias e teológicas dos últimos decénios em torno da Bíblica têm sido fonte de grandes avanços no conhecimento mais aprofundado dos textos bíblicos – e de teorias polémicas na interpretação dos mesmos, não raro ignorando a autoridade do magistério eclesial e lançando a confusão entre os crentes. O Sínodo, porém, mais do que atender a tais polémicas, tem como objectivo ajudar as comunidades cristãs e cada cristão a tomarem consciência da necessidade de amar e conhecer esta Palavra, por meio da qual Deus se revela na sua intimidade e conduz a humanidade nos caminhos da salvação.

2. Servir-se da Palavra...

Na Intenção que propõe ao Apostolado da Oração está patente a preocupação do Santo Padre quanto ao modo como os diversos membros da Igreja empenhados no serviço da Palavra de Deus (pastores, teólogos, catequistas, animadores...) assumem este serviço. Trata-se de uma preocupação compreensível, pois nem sempre tal serviço é assumido em Igreja e na Igreja. Assim tem acontecido, sobretudo por parte de estudiosos da Bíblia que, na sua investigação, se afastam do serviço à comunidade crente, na tentativa, bem intencionada, certamente, de tornar a Palavra de Deus mais aceitável ao espírito do tempo. Na maior parte dos casos, o resultado final é precisamente o contrário: uma erudição que abafa a originalidade da Palavra e acaba por torná-la simples palavra humana, historicamente datada e sem relevância para o contexto actual; noutros casos, a Palavra de Deus acaba a justificar opções ideológicas prévias, pouco ou nada respeitadoras da sua novidade.

3. Todos ao serviço da Palavra...

A atitude eclesial que o Sínodo dos Bispos pretende suscitar passa pelo serviço da Palavra de Deus, em Igreja. Todos podem e devem prestar este serviço: os estudiosos através da investigação cuidadosa e rigorosa, para ajudarem todo o povo de Deus a progredir no conhecimento da sua Palavra; os pastores da Igreja, anunciando a Palavra com vigor, explicando-a aos fiéis e convidando-os a caminhar na fidelidade aos seus ensinamentos; os catequistas, animando na descoberta das infindáveis riquezas da Palavra e testemunhando o seu poder para a transformação da vida pessoal e colectiva... e todos, em comunidade ou individualmente, dando testemunho diante do mundo de amor à Palavra de Deus, de alegria na sua escuta e, sobretudo, de adesão à mesma – que é adesão a Jesus Cristo – deixando-se converter e conduzir por ela.

4. Em comunhão com toda a Igreja

A adesão à Palavra de Deus não é uma iniciativa individual. A iniciativa é sempre de Deus – e o lugar da sua realização plena é a Igreja. Não há, por isso, conversão à Palavra que não seja também conversão à Igreja, à comunidade crente por meio da qual a Palavra chega até cada um de nós. E também por isso, não há verdadeira escuta da Palavra que não tenha uma dimensão de Igreja – mesmo quando a Palavra é lida e meditada na intimidade e na solidão. A Palavra recebe-se, não se inventa; é-nos dada, não é conquista nossa; é poder transformador de Deus, revestindo a fraqueza da nossa carne. A Palavra guia aquele que se deixa converter por ela para a verdade total, a verdade de Deus em Jesus Cristo. Esta verdade, porém, só é plenamente reconhecida na comunhão com toda a Igreja e só pode ser verdadeiramente vivida no seio de uma comunidade de fé – de outro modo, arrisca sempre a falsificação do amor próprio, o orgulho da auto-complacência, a mentira ideológica de quem se julga senhor da Palavra, em vez de se deixar julgar por ela.

Elias Couto

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